Pra variar, estava eu observando a revolta da rapaziada a respeito do último episódio envolvendo o ex-presidente Lula e tem algo que acho que passou desapercebido pela galera. Não agora, mas há anos já.
O ex-presidente, com todas as controvérsias envoltas na sua história, tem hoje 75 anos de idade e uma bagagem política, pro bem e pro mal, que nenhum outro político brasileiro tem. Na verdade, sejamos sensatos, ter até tem, mas é tema pra outra reflexão. Vamos nos ater aqui ao que observei nestes últimos dias.
Há pelo menos 30 anos é possível ver se repetir o fato de personalidades com um certo padrão moral insistir em falar que “o Lula é um analfabeto”, ou outros julgamentos similares, mostrando que nestes anos todos os opositores do cara não conseguiram evoluir na linha de argumentação e tampouco criar um terreno acadêmico fértil capaz de formar alguém com perfil minimamente capaz de servir de alternativa, quem dirá alguém mais promissor do que ele se apresenta hoje, comparado a essa figura monstruosa e desprovida de moral que ocupa o cargo desde 2019, ainda que neste tempo ele não tenha se tornado um PhD.
Este discurso é mais comum na cabeça dos opositores dele, uma ruma de gente lobotomizada com o discurso anti-petista que é a institucionalização quase acadêmica do ódio classista ao Lula e tudo que ele representa. No entanto essas falas não se restringem a estes perfis habituais. Não é raro ver isso partindo de figuras escolarizadas, relativamente cultas, mas moralmente dentro desse mesmíssimo padrão psicológico hater de pobreza.
Não é que o sujeito e seus correligionários do Partido dos Trabalhadores não tenham cometido erros que considero puníveis com fogo de 10 piras. Mas isso é uma visão pessoal que nada tem a ver com o que essa turma defende ou acredita defender. Não é essa a questão que quero levantar aqui.
O que quero frisar é que nestes 30 anos, a oposição ao Lula precisou de usar de subterfúgios jurídicos pra tirá-lo da disputa eleitoral de 2018, tentando emplacar como candidatos figuras inexpressivas e sem a vivência e conexão com a realidade de povão do “inimigo público número 1”. A ponto de a ex-presidente Dilma ter vencido duas eleições.
Após essa segunda derrota pra Dilma, perderam de vez as estribeiras e em 2016 adotaram uma jogada imediatista pra satisfazer unicamente à sanha dos investidores, aprofundando a desigualdade e os problemas que foram os principais elementos que forjaram o Lula como representante de tudo que eles desprezam.
Gostem ou não da pessoa do sr. Luís Inácio, as pessoas precisam aprender de uma vez por todas que leva-se décadas para formar alguém capaz de fazer frente a tanta bagagem. Falta-lhes a inteligência e a serenidade pra entender e aceitar o fato de que talvez a alternativa a essa dualidade Jair Messias x Luís Inácio pode ser alguém que você aprendeu a desprezar nos últimos 20 anos por medo de inovar sua forma de ver o mundo, incapacidade de debater o que seria o melhor pro país e não apenas pro seu mundinho. Mais que isso, por preguiça de aprender a ler as entrelinhas dos veículos de mídia que desde a redemocratização servem aos mesmíssimos propósitos mercadológicos.
Se você não entender isso antes de acabar este ano, em 2022 você poderá ter que enfrentar justamente a mesma “Escolha Difícil”, quando a melhor escolha é apenas um conto de fadas que você sequer se deu ao trabalho de escrever com suas próprias mãos.